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O que é quimioterapia?

Depois de receber um diagnóstico de câncer, há uma palavrinha que costuma atormentar o ânimo dos pacientes: a quimioterapia. Ela geralmente está associada a quadros nada agradáveis, como a perda de cabelos, vômitos, feridas na boca, fraqueza e mal estar. Porém, é importante questionar essa má reputação da quimioterapia. Afinal, quando se trata de medicamentos, ela ainda é um dos maiores aliados de quem quer vencer um tumor.

Você sabia que a quimioterapia aplicada em câncer, chamada antineoplásica ou antiblástica, origina-se do gás mostarda, que foi usado nas duas grandes guerras mundiais como arma química? Parece assustador mesmo, não é? Naquela época, estudos realizados com soldados que foram expostos ao gás estimularam pesquisadores e médicos a utilizarem a descoberta no tratamento de linfomas malignos. Desde então a quimioterapia vem sendo aplicada em diferentes tipos de câncer, seja com intuito paliativo, para melhorar a qualidade e prolongar a vida do paciente, ou curativa, com a finalidade de acabar definitivamente com o tumor (associada ou não à cirurgia e a outros tratamentos).

Tantos efeitos colaterais são relacionados à quimioterapia porque seus compostos químicos, destinados a atingir as células doentes, acabam alvejando também as células saudáveis, como as do cabelo, do aparelho digestivo e, principalmente, da medula óssea. Por isso o paciente pode ficar debilitado, dependendo da intensidade das aplicações. Como as células normais conseguem recompor-se dentro de um determinado período, a quimioterapia pode ser administrada repetidamente, em ciclos que respeitam o tempo necessário para a recuperação do paciente.

No mundo de medo e incertezas que se abate sobre quem descobre um câncer, é necessário reconquistar uma postura positiva e confiante. Para isso é importante saber que as pesquisas na área da quimioterapia estão apresentando avanços significativos nas últimas décadas. Hoje dispomos, por exemplo, de diversas opções de medicamentos mais potentes para evitar a náusea e vômito, remédios que minimizam a queda da imunidade, laserterapia para prevenir ou tratar as aftas na boca e touca gelada para reduzir a queda de cabelo. Além disso, novos medicamentos estão intensificando a ação quimioterápica. É por isso que, embora novas linhas de tratamento estejam trazendo ótimos resultados, a eficácia da quimioterapia e a diminuição gradativa dos seus efeitos colaterais lhe abrem ainda uma longa trajetória pela frente, principalmente associada a estes novos tratamentos, como a imunoterapia.

A quimioterapia é um procedimento caro, mas é disponibilizado pelos planos de saúde e pelo SUS. Há várias formas de aplicação. A intravenosa é a mais comum. Nela, a medicação injetada passa pelo coração e se espalha para praticamente todos os tecidos do corpo. A aplicação subcutânea, que é feita entre a pele e o músculo, é absorvida mais lentamente, enquanto a intramuscular, feita no interior do músculo, é muito rápida. Existe também a quimioterapia em forma de comprimido, o que traz a comodidade de ser utilizada em casa. Porém, mesmo na forma de comprimido podem ocorrer os possíveis efeitos colaterais, de modo que o paciente também deve manter todos os cuidados recomendados pelo oncologista.

Dependendo do tratamento e das condições do paciente, pode ser indicado o implante de um cateter para a administração dos medicamentos. O dispositivo mais comum para esse fim, chamado port a cath, é instalado sob a pele, na região torácica. O procedimento é considerado uma pequena cirurgia, com anestesia local ou sedação (semelhante à realizada para endoscopia). Entre as vantagens do equipamento estão a sua durabilidade (cerca de 5 anos no caso do port a cath), maior conforto, melhor mobilidade, menor chance de infecções nos braços, menor chance de atrofia ou inflamação das veias (flebite) e redução do risco de necrose da pele e subcutâneo por extravasamento da droga para fora da veia. As possíveis complicações do cateter são infecção e risco de obstrução por coágulos (trombose). Para minimizar a chance dessas complicações, é importante manter a higiene, evitar traumas no local do cateter e que seja realizada uma manutenção de limpeza por uma enfermeira treinada, numa clínica ou hospital, que pode ser mensal como no caso do port a cath ou mesmo semanal como no caso do cateter de picc (cateter inserido em geral pelo braço, mas que a ponta alcança até o coração, utilizado para administrar medicamentos como a quimioterapia).

Ainda que atualmente os efeitos colaterais da quimioterapia sejam menos desanimadores, é preciso ter alguns cuidados antes e depois das sessões de aplicação. Como o sistema imunológico pode ficar enfraquecido, é essencial evitar infecções, inclusive as que parecem mais inofensivas, como um resfriado por exemplo. Às vezes, mesmo uma cárie tem maior chance, num momento de imunidade baixa, de provocar uma inflamação ou infecção na boca, Por isso é recomendável, além de frequentar os médicos que farão um check-up geral, visitar também o dentista para avaliar e cuidar da saúde bucal antes de iniciar o tratamento.

Uma das preocupações constantes do tratamento é a questão da fertilidade. Pacientes que têm planos de ter filhos devem conversar com o seu médico e considerar a possibilidade de coletar e congelar seus óvulos ou sêmen, pois a quimioterapia pode afetar o sistema reprodutor.

Depois das sessões, os cuidados preventivos incluem uma boa higiene pessoal, evitar lugares fechados ou muito cheios de gente, ficar longe de pessoas doentes,

ingerir bastante água (exceto se contra-indicado pelo médico), evitar a ingestão de alimentos crus, manter a casa limpa, entre outros. Todo sinal de infecção – como dor de garganta, febre, calafrios, suor exagerado, inchaço ou vermelhidão pelo corpo – deve ser relatado ao médico.

Por ser altamente complexa, a quimioterapia necessita de um médico oncologista para acompanhar a evolução da pessoa enferma. Esse profissional deve se manter atualizado e apresentar as melhores e mais modernas opções disponíveis ao seu paciente. É comum que na tensão do tratamento, por estarem suscetíveis aos efeitos colaterais, os pacientes tirem conclusões precipitadas sobre o seu êxito. Apenas o médico poderá atestar se a quimioterapia está trazendo os resultados esperados ou não. Portanto, mesmo nos momentos de maior dificuldade, é preciso acreditar. Afinal, os resultados positivos do tratamento não dependem apenas de médicos e medicamentos, mas também da força, da coragem, da motivação e do estado emocional de cada um.

por Tadeu Paiva Jr – Oncologista Clínico do CEPON (Florianópolis), Clínica SOMA (Florianópolis) e do AC Camargo Cancer Center (São Paulo).

 

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