Câncer de Cabeça e Pescoço: a precaução em suas mãos

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Câncer de Cabeça e Pescoço: a precaução em suas mãos

Embora haja uma certa euforia entre a classe médica, que comemora os bons resultados das recentes pesquisas relacionadas ao tratamento de diversos tipos de câncer, é preciso esclarecer que a maior arma contra a doença ainda é a prevenção. Ela se dá principalmente mantendo hábitos saudáveis e com acompanhamento médico regular. Quando se fala em câncer de cabeça e pescoço, essa é uma regra que devemos seguir à risca.

Primeiro porque é uma doença com alta chance de cura quando detectada em estágio inicial, mas cujo risco cresce consideravelmente quando não é diagnosticada a tempo. Depois, porque os maiores fatores de risco dos tumores na região da cabeça e pescoço fazem parte do comportamento de cada um de nós, e podem ser evitados com a combinação de informação, vontade e esforço pessoal.

Faz parte da nossa cultura, a do brasileiro em geral, nos preocuparmos com um problema apenas quando nos deparamos com ele, ao invés de tentarmos nos antecipar para que ele não aconteça. Em relação a saúde, essa é uma atitude de risco, e que pode ser fatal. Quem não conhece alguém que fumou diariamente durante anos, muitas vezes saboreando uma cervejinha ou outra bebida alcoólica, e que se sentiu malfadado ao padecer de câncer. Há tempos não podemos mais reclamar de falta de informação quanto aos perigos do hábito de fumar e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, você concorda? Mas nos custa perder a mania de pensar que esses males não vão acontecer com a gente.

Citei esse exemplo porque essa dupla, o cigarro e o álcool, com grande adesão de usuários, é a principal vilã causadora do câncer de cabeça e pescoço. Só fumar já é perigoso. Só beber, também. Para quem tem os dois hábitos, o cenário fica ainda mais crítico, pois a chance de se desenvolver um tumor cresce até 40 vezes. Para a maioria que tem esses costumes, não é fácil parar de fumar e beber, já que esses produtos possuem substâncias que causam dependência química.

E é aí que entra a força de vontade, o esforço pessoal. É preciso ter a consciência de que a luta contra um câncer é ainda muito mais árdua do que o empenho para superar esses vícios. Além disso, ela é dolorosa e cruel não só para o paciente, mas também para a família e afins. Portanto, se você se reconheceu por aqui, é hora de reagir. Encare as suas fraquezas, pense em quem você ama e supere-se! Além de diminuir a probabilidade de desenvolver um tumor, você com certeza vai aproveitar melhor a vida, vai ter fôlego para ir além, vai ter um paladar mais refinado, mais autoestima. Enfim, terá muito mais qualidade de vida.

As estatísticas do INCA, Instituto Nacional do Câncer, apontam que os tumores de cabeça e pescoço mais prevalentes aparecem na cavidade oral, garganta, na laringe, tireoide e nas glândulas salivares. A cavidade oral é a região mais afetada nos homens. Nas mulheres, o maior número de casos atinge a glândula tireoide.

Além do cigarro e do álcool, os estudos mais recentes alertam para o crescente número de casos motivados pelo vírus do papiloma humano, o HPV. A maioria dos casos se dá na orofaringe e são originados pela prática de sexo oral sem proteção. Este novo contexto tem alterado inclusive o perfil etário que mais desenvolve a doença. Antes concentrado em pessoas acima dos 50 anos, este perfil tem ficado mais jovem por conta da presença do HPV.

O vírus do papiloma humano é uma epidemia mundial. Até então ele estava relacionado apenas ao câncer de colo do útero, e já era responsável pela morte de muitas mulheres. Hoje sabe-se que ele está associado a outros tipos de câncer, como o de cabeça e pescoço e o de pênis. Desde o ano passado, o Ministério da Saúde promove a campanha de vacinação gratuita para meninas entre 9 e 14 anos, e, a partir deste ano, de meninos de 12 e 13 anos. Esta iniciativa tende a controlar a incidência do vírus e, por consequência, dos tumores causados por ele nas próximas gerações de adultos.

Mas isso é suficiente? É um começo, uma esperança para nossas crianças. Para quem tem uma vida sexual ativa, quero enfatizar aqui a mensagem do primeiro parágrafo desse texto: a principal arma continua sendo a prevenção. Para prevenir o HPV, sexo seguro sempre! É difícil aconselhar como um casal deve agir na hora do sexo, mas informação não pode faltar. E você não pode deixar de saber que ao fazer sexo oral sem proteção você está correndo o perigo de contrair HPV e outras doenças sexualmente transmissíveis.

A transmissão do HPV se dá pelo contato com a verruga causada pelo vírus. Então até mesmo com o sexo oral protegido o risco existe, pois as verrugas podem estar situadas em áreas não cobertas pelo preservativo. Você pode achar que não é tão atraente, mas é fundamental aliar o prazer a cuidados com a saúde.

No Brasil, de cada quatro diagnósticos de câncer de cabeça e pescoço, três estão em estágios avançados. Nestes casos a chance de cura é menor, e o sofrimento aumenta bastante, pois as regiões afetadas são responsáveis por ações vitais ao nosso organismo, como a respiração e a alimentação. As cirurgias podem acarretar em mutilações difíceis de esconder, o que acaba causando afastamento social e depressão. Não tenho dúvidas que este tipo de câncer, quando descoberto tardiamente, é um dos que mais compromete a qualidade de vida dos pacientes.

Por isso, evite o cigarro e bebidas alcoólicas, tenha uma vida sexual saudável, dê preferência para alimentos naturais, como frutas e verduras, mantenha uma boa higiene bucal, cuide-se ao se expor ao sol e visite regularmente seu dentista e médicos de confiança.

Os sintomas típicos dos tumores de cabeça e pescoço incluem o aparecimento de feridas na língua, úlceras não curáveis e manchas vermelhas ou brancas na boca, nódulos no pescoço, dor de garganta que não melhora, dificuldade para engolir e alteração ou rouquidão na voz. Todos estes males são sintomas também de doenças comuns, benignas. Mas se persistirem por mais de duas semanas,  consulte a opinião de um dentista ou médico. Sua saúde agradece!

por Dr Tadeu F. de Paiva Jr, MD, phD – Oncologista Clínico do CEPON (Florianópolis), Clínica SOMA (Florianópolis) e do AC Camargo Cancer Center (São Paulo).

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